Reflexões Inquietas

Do homem medieval ao liberal: ciclos e crises do liberalismo – tendências autoritárias recentes

O artigo foi apresentado para a Revista de Economia Política em maio de 2022, aprovado em janeiro de 2023 e agora publicado no vol. 44, nº 1, pp. 103-124, janeiro-março/2024. Veja o link: https://www.scielo.br/j/rep/i/2024.v44n1/

Muitos pensadores têm se debruçado sobre o atual quadro de desarranjos e tendências autoritárias que se manifestam ao redor do mundo. O que estaria na origem desses eventos que apontam para uma inflexão na ordem política que se mantinha nas economias avançadas desde o final da 2ª. Guerra Mundial? Perda de substância das democracias ocidentais? Valores tradicionais postos em xeque, que assustam o pensamento conservador? Certamente há muito disso. Mas, porque países vistos como democracias consolidadas estão se posicionando na extrema direita do espectro político?

O estudo parte da pergunta “a História se repete?” e descreve eventuais coincidências econômicas, que podem ter gerado ciclos de regulação/desregulação entre as décadas iniciais dos séculos XX e XXI. Considerando o desastre civilizacional que ocorreu na primeira metade do século XX, se essas coincidências continuarem a ocorrer, o futuro próximo não será nada fácil.

As seções a seguir abordam o nascimento do liberalismo clássico, a posterior ascensão do neoliberalismo, o neoliberalismo na contemporaneidade e especulações acerca de um eventual pós-capitalismo ou pós-neoliberalismo.

Em síntese, possíveis respostas aos questionamentos iniciais podem passar por três vetores: a existência de ciclos de regulação/desregulação, que se manifestam na esteira das mudanças no estado de espírito dos povos; a prevalência de um neoliberalismo que alimenta consumismo fútil e favorece a paranoia de segurança interna e externa; e o enfraquecimento do trabalho ante o capital. Estes três eixos de análise não esgotam a questão, mas respondem por boa parte do desconforto das populações do mundo atual, porque apontam para a concentração da renda e da riqueza e para tendências autoritárias. Medo e descrença nas instituições públicas costumam ser maus conselheiros.

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14 respostas

  1. Prezado Luiz Afonso, grato pelo retorno dado aos meus breves comentários. Nem precisava.
    Verdadeira aula, ou melhor, “verdadeiras aulas” são aquelas que você tem propiciado por intermédio dos artigos que tem produzido e inserido neste seu site, ratificando aquilo que eu disse no início dos meus comentários: você tem muito a dizer/ensinar.
    A articulação que você procura fazer, com frequência, entre economia, cultura (em sentido lato) e arte (em particular) não é “para amadores”, lembrando aqui a célebre frase atribuída a Tom Jobim sobre o Brasil (em que teria se referido a “principiantes”, ao invés de “amadores”). É, isto sim, produção intelectual refinada de que só podem se ocupar seres pensantes dotados de uma formação rica e diferenciada, que é privilégio de poucos, como você.
    Quanto à questão do “tempo relevante”, tendo a discordar um pouco. É que, sendo Físico de (primeira) formação, e tendo revisto (ainda que muito superficialmente), durante a pandemia da Covid-19, algumas questões relacionadas à Física Quântica e ao Modelo Padrão da Física de Partículas (notadamente quanto ao Bóson de Higgs), quero crer que a questão do tempo ainda precisa de muitos aprofundamentos na linha da “duração” (e não do “tempo contado”) como atributo essencial da pré-origem do Universo (ou do Cosmos, se preferirmos). Atributo que, em certa linha de pensamento, joga no mesmo time da “substância primordial” (outro atributo), tendo ambos, presumivelmente, entrado em campo de “uniforme e chuteira” no momento do Big Bang (elemento central, “por enquanto”, do “mainstream” da Física, na linha dos paradigmas referidos por Thomas Kuhn).
    Nesse campo, não tenho dúvida de que os nossos “vetores de tempo” estão sintonizados e apontam na mesma direção. Jogamos juntos, mas você é, indubitavelmente, um dos craques do time.
    Detalhe: ditos “atributos”, naquela linha de pensamento, são quatro: espaço, substância, duração e ritmo. E ritmo é um atributo que remete à ideia de… ciclo (os ciclos de ida e volta, de alta e de baixa, etc.).
    Bingo! Voltamos aos ciclos, voltamos ao seu texto.
    Quanto ao meu otimismo em relação ao Brasil, devo “confessar” que ele tem um “pé” (ou uma “pegada”) que ainda não dialoga bem, por exemplo, com a Física e a Economia, tomadas como integrantes da “ciência oficial”. Mas tem, também, uma base de “concretude histórica” (outro “pé”) firmemente ancorada na realidade material e subjetiva do País, a mesma para a qual bastaram certos impulsos (“inputs”) para que nos tornássemos a “economia” que mais cresceu no mundo durante, pelo menos, três décadas, impulsos esses dados, dentre outros, pela Semana de Arte de 1922 e por Gilberto Freire, Sérgio Buarque de Holanda, Villa-Lobos, Villas Bôas (nas pegadas do Marechal Rondon), Celso Furtado, Darcy Ribeiro etc., numa chave analítica, e por Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek, noutra.
    Esses impulsos, ao que parece, conectaram “espírito e matéria”, quiçá permitindo que o “complexo de vira-lata” (de Nelson Rodrigues) fosse vencido, e apontando, de certa forma, para o acerto da análise recente de Eduardo Giannetti da Fonseca relativamente a esse mesmo “vira-lata” (suas virtudes e o orgulho de sê-lo). Base material e “forças produtivas”, sob o influxo do “espírito animal” (a que costuma aludir Delfim Netto) fundado no “egoísmo humano-capitalista” (de Adam Smith), fizeram, então, o seu trabalho.
    Mas que não ser iludam os “liberais” mais radicais: teve que ter Estado (até porque, como lembrava Eros Grau em tom jocoso, é preciso proteger o capitalismo da ação dos capitalistas). E foi o Estado que deu o “impulso fundamental” com o projeto de industrialização para substituição de importações, que teve o mérito de “mimetizar” (visto que, a rigor, não era) um “projeto de país” de longo prazo. E essa é, a meu ver, a grande chave para o desenvolvimento sustentado/sustentável, exitosamente adotada por asiáticos como Japão, Coréia do Sul e China, mas já antes experimentada, também exitosamente, por Estados Unidos, Alemanha etc.: projeto de país (de longo prazo).
    Difícil? Muito, mas essencial se não quisermos que o País siga “navegando nos mares da conjuntura”, ditada (a partir da formatação dada pelo Consenso de Washington ao neoliberalismo pós-Reagan/Thatcher) pelo capitalismo financeiro de face “rentista” que, como bem observou você, Luiz Afonso, em seu livro “Moeda e Crise Econômica Global”, permitiu que a riqueza financeira “descolasse” absurdamente da riqueza real. Nesse processo, o espírito animal (já por ser “animal”) avançou, avidamente, para o terreno de “menor gasto de energia” e maior “rendimento do sistema” (coisas da Física?!), no qual a moeda fiduciária e as “quase moedas”, aparentemente, facilitaram ainda mais o processo (lubrificando as engrenagens) em que, agora, tenta o espírito animal (já “financeirizado”) avançar quase que “cegamente” para as criptomoedas (um lubrificante, aparentemente, de muito maior “viscosidade” para esse sistema).
    Por certo que essa linha de raciocínio não ignora, convém ressaltar, as questões geoestratégicas e geoeconômicas, públicas e privadas.
    Bem, mas deixemos isso para um dos próximos encontros com a Lenina.
    Um grande abraço.

    1. Caro amigo José Luiz,
      Quando vi suas referências ao Bóson de Higgs, confesso que achei que se você queria me matar não poderia ter dado tiro melhor.
      Ainda bem que aquilo foi só um aperitivo para você falar do “tempo relevante”, que, em suas reflexões científicas, levam-no a preferir a “duração do tempo” ao “tempo contado”.
      Ignorante da física, recolho-me à História da Economia Política. Por isso, voltei ao século XIII nas minhas divagações acerca do filósofo inglês Michael Oakeshot e a outros pensadores dos séculos XV/XIX, fundamentais para o desenvolvimento do iluminismo.
      Entendo seu “otimismo” quando você cita inúmeros intelectuais do Brasil que, cerca de cem anos atrás, defenderam a unidade nacional e se perguntaram que era o “homem brasileiro”.
      Curiosamente, também com base nisso, eu sou bastante pessimista com o futuro do Brasil. Como posso ter esperanças se tenho gravado em minha retina o mar de “camisas amarelas” babando ao ouvir as palavras sem sentido de seu mito no domingo da Av. Paulista? E o que dizer da esposa do mito, que quer retroceder quinhentos anos na História, ao atacar o estado laico e propor que esse estado seja entregue a Deus?
      Finalmente, caro amigo, estamos de acordo acerca da necessidade de o Brasil ter um projeto de país de longo prazo. Acho que o craque Tostão também estaria de nosso lado, porque, ao comentar a desclassificação da seleção olímpica, ele disse que o futebol brasileiro perdeu sua identidade. Como creio que o futebol é um microcosmo do país como um todo, por que não perguntarmos se o povo brasileiro também não terá perdido sua identidade?
      Para mim, procurar a identidade perdida só pode começar a acontecer voltando à História de cerca de cem atrás atrás. Se lá foi possível acreditar num futuro promissor, o que fazer para retomá-lo daqui em diante?
      Abraçasso.

    2. Em tempo, amigo José Luiz, a Imprensa tem noticiado que a Justiça americana começou a análise de um projeto que envolve “moderação” das Big Techs quanto ao conteúdo publicado nas redes sociais. Acho que o assunto já está na Suprema Corte.
      Isso me fez pensar no meu site. Até sua entrada em vigor, eu não fazia a menor ideia de como as coisas funcionavam.
      Agora, me foi dado o poder absoluto de aprovar ou rejeitar qualquer comentário a artigo aqui postado.
      Se eu aprovar o artigo, posso optar por responder, o que é lógico, mas também posso não responder.
      Achei isso ótimo, porque não quero enfrentar qualquer tipo de lixo que tem circulado por aí.
      De repente, me dei conta que tenho um poder total de censura.
      Claro, todo mundo é condescendente consigo mesmo. Todos devem achar que seu papel é o de andar na linha e que eles não sairão do caminho da correção.
      Será mesmo? Vou acompanhar essa discussão, ainda que este espaço não tenha o poder de ter grande repercussão social.

  2. Luiz Afonso, primeiramente, desculpe a demora em me manifestar neste seu site, que constitui, aliás, uma excelente iniciativa, pois você, sem dúvida, tem muito a dizer/ensinar.
    Parabéns!
    Sobre esse seu artigo, permito-me começar com um comentário de ordem formal (“acadêmico”): você se apresentou, nele, unicamente como “Economista aposentado do Banco Central do Brasil”. É certo que se trata de uma função das mais relevantes no contexto do serviço público federal. Todavia, em artigos como esse, vocacionados para a publicação, creio que você deveria indicar, também, a sua formação acadêmica: Doutor (Unicamp) e Mestre (FGV) em Economia.
    Mas esse é apenas um detalhe.
    Quanto ao artigo em si, gostei da sua abordagem já pelo fato de sair do “lugar comum” da maioria das análises e procurar inserir em suas indagações a questão dos “ciclos”, que remete, de alguma forma, à ideia (já agora “científica”, quiçá “historicizada”) originalmente posta pela antiquíssima “lei dos ciclos”, assim referida tanto em estudos relacionados à figura de Hermés (O Trimegisto, do Antigo Egito), como aos Vedas, da Índia, lá se vão muitíssimos séculos antes da Era Cristã ou Comum (EC).
    Do chinês Confúcio e do grego Heródoto, desembocando e passando por Giambatista Vico, os ciclos expressos pelos “corsi” e “ricorsi” parecem ser, de fato, uma fonte deveras interessante de elementos para a análise das “grandes linhas” da história.
    Vale, todavia, a advertência de Sertório de Amorim e Silva Neto, ao analisar o pensamento de Vico (em tese de Doutorado: “As Razões da Política: ‘Humanitas’ e barbárie em Giambatista Vico”), que “embora revelem desenvolvimentos iguais, os cursos históricos serão sempre qualitativamente diferentes, por isso, mais que circular, a história ideal eterna viconiana perfaz um movimento helicoidal, de círculos ascendentes. Como demonstra a Europa medieval, os povos caem na barbárie e os fortes voltam a dominar os ignóbeis, contudo, não voltam jamais à condição da primeira barbárie dos descendentes de Noé, onde não havia cidades, repúblicas ou filósofos”.
    Daí a constatação de que o liberalismo (tendo como “derivada primeira” o neoliberalismo) manifestou-se e tem se manifestado com distintas nuances em diferentes períodos da História, ideia essa bem expressada por Nelson Saldanha (em texto de 1980) ao dizer que a afirmação de que o liberalismo tem (e, sobretudo, teve) a sua história significa “constatar que seu papel histórico apresenta significativas modificações, e que seu convívio com posições políticas outras tem sofrido mudanças”, sendo certo que “cada grande época da política contemporânea (e dos ideários políticos) revela um especial equacionamento do confronto entre conservadores e liberais, liberais e socialistas, radicais de esquerda ou de direita’”.
    Enfim, gostei, de uma forma geral, das suas provocações e do material que você apresentou, valendo destacar, aqui, a citação aos “arquétipos” de Oakeshott e, em particular, para a “derivação” denominada de “conservador reacionário”, especialmente interessante e atual.
    Essa figura, associada à sua menção ao 08/01/2023, fez-me lembrar um trecho multicitado (em artigos, trabalhos acadêmicos etc.) de Jean-François Mattéi, no livro “A barbárie interior: ensaio sobre o i-mundo moderno”, quando diz: “É possível distinguir facilmente o que chamo efeitos de barbárie dos efeitos de civilização. O efeito de barbárie caracteriza toda a forma de esterilidade humana e de perda de sentido no campo da cultura, quer se trate de ética, de política, de arte, quer de educação. Para que haja barbárie, é preciso haver já uma civilização anterior que o bárbaro, como Alarico e seus visigodos quando do saque de Roma, vai bater, pilhar e destruir. Se o selvagem não teve tempo de criar obras duráveis de civilização pelo trabalho sobre si mesmo, o bárbaro procura arruinar esse mundo estrangeiro que o provoca e fascina, mas que ao mesmo tempo lhe devolve o reflexo de sua impotência a encontrar-lhe sentido. Em sua secundaridade, a barbárie está estreitamente ligada à civilização, de que é a face negativa, assim como a queda está intimamente ligada à ascensão: só aquele que pode subir está em condições de cair”.
    Levando em conta, de um lado, o cenário econômico, social e político (senão, também, cultural, pelo menos em algumas áreas) lastimável dos últimos anos e, do outro, o período dos “anos dourados” do Brasil (sobre os quais é indispensável lembrar, Luiz Afonso, seu ótimo artigo “A década de 1950: os ‘anos dourados’” brasileiros”, constante deste site), a afirmação final de Mattéi de que “só aquele que pode subir está em condições de cair”, de certa forma permite-me uma proposição (que coloco aqui não como pergunta, mas sim como afirmação) quando menos, provocativa, a saber: o Brasil, por certo, ainda tem muito a subir. E completo: sobretudo se souber aproveitar bem suas potencialidades em energia, água, meio ambiente e indústrias de transformação (em muitas das quais, aliás, suas vantagens comparativas potenciais – lembrando David Ricardo – são para lá de óbvias).
    Finalizando, indispensável dizer que, diante das várias referências conceituais e bibliográficas que você usa, precisarei ler o artigo pelo menos uma vez mais. Porém, achei interessante expressar desde já, nestas poucas linhas, a minha primeira impressão.
    Parabéns pelo texto e por sua publicação, Luiz Afonso.

    1. Bom amigo Zé Luiz,
      Obrigado pelos seus comentários, que recebo, com prazer, como uma verdadeira aula.
      Refiro-me especificamente à questão dos ciclos políticos em meu trabalho, que você ampliou filosoficamente para o movimento natural do mundo.
      Somos amigos há muitos anos, de modo que sei que nossas noções de tempo relevante são diversas.
      Você vai lá atrás e eu não passo de alguns anos. A diferença está entre milhares e centenas ou dezenas de anos.
      De todo modo, seus comentários me enriquecem, como de hábito.
      Gostei, em especial, da constatação que a barbárie só se explica em oposição à civilização.
      Como você colocou: é preciso destruir aquilo que me fascina…
      Ainda voltaremos a esse assunto, com certeza, quem sabe num daqueles encontros com a Lenina…
      Que você esteja certo em seu otimismo com relação ao futuro de nossa terra, é meu ardente desejo!
      Grande abraço,
      Luiz Afonso

  3. O texto brilha ao oferecer uma análise profunda e abrangente das dinâmicas políticas e econômicas globais, expondo questões críticas da contemporaneidade e questionando a sustentabilidade do modelo capitalista. A exploração das semelhanças entre eventos históricos dos séculos XX e XXI, juntamente com a consideração cuidadosa do Liberalismo Clássico transformado em Neoliberalismo, enriquece a compreensão das raízes ideológicas que moldaram a estrutura política e econômica atual. A incorporação das visões de filósofos renomados como Michael Oakeshott, Jean Bodin, e outros, amplifica a riqueza analítica do texto, proporcionando uma compreensão mais profunda.

    A metáfora de Bauman sobre a modernidade líquida oferece uma perspectiva única sobre as mudanças sociais e econômicas, enquanto a discussão das consequências da desregulamentação abrangente destaca a relevância do texto para entender os desafios contemporâneos. A seção sobre o pós-capitalismo, baseada nas ideias de Paul Mason, introduz uma perspectiva futurista e otimista, destacando a influência crescente da tecnologia. 

    A visão de Paul Mason sobre a transição para o pós-capitalismo é verdadeiramente inovadora e otimista, representando uma abordagem inspiradora diante dos desafios contemporâneos. Destacando a importância da produção cooperativa e da economia de compartilhamento, Mason parece propor uma gestão mais horizontal dos meios de produção, promovendo a participação democrática e a distribuição equitativa dos benefícios. A ascensão da tecnologia em rede, central nessa perspectiva, destaca o papel crucial da interconexão global.

    A produção cooperativa desafia a lógica capitalista tradicional, favorecendo a participação e distribuição equitativa, enquanto a economia de compartilhamento, impulsionada pela tecnologia digital, redefine a propriedade de maneira sustentável e solidária. A ênfase na colaboração e no uso eficiente de recursos alinha-se a uma visão mais equitativa da sociedade, desafiando estruturas convencionais. Essa proposta reflete a consciência crescente de que a tecnologia, quando direcionada de maneira consciente, pode impulsionar transformações sociais significativas, promovendo o caminho para um futuro mais igualitário.

    1. Obrigado pelos comentários, Maitê.
      É importante para mim ter a opinião dos jovens.
      Não surpreende ver que você se sentiu mais atraída pelos comentários de Paul Mason.
      Ele, de fato, fez crítica fundamentada das dificuldades do neoliberalismo em controlar a tecnologia.
      Daí, ele deriva uma visão otimista com relação ao futuro.
      Aliás, nada de novo sob o sol.
      É comuníssimo ver os poderosos cantarem sua vitórias e não perceberem que as batalhas ganhas são apenas antessalas de fragorosas derrotas futuras.
      Torço para que vocês, jovens, aproveitem os espaços de liberdade que a tecnologia atual propicia para pensar um mundo mais equitativo, igualitário.
      Palavras que você destaca: equidade, igualitarismo.
      Nos primórdios das discussões na esfera socialista, lá pelos últimos vinte anos anos do século XIX, já havia a consciência da produção cooperativa.
      Na esquerda da esquerda na Alemanha, Rosa Luxemburgo teorizava as possibilidades do fim do capitalismo.
      Na direita da esquerda, um pouco mais realista, já se percebia que as cooperativas podiam ser uma porta que aproximasse a necessidade de igualitarismo e a busca de avanços rápidos no modo de produção capitalista.
      O mundo vai e vem. Creio que há ciclos de dominância do liberalismo e ciclos de busca da igualdade, sempre que os liberais enlouquecem.
      Acho que estamos vivendo algo nesse sentido. A riqueza se concentra fortemente e se embrutece na sua ganância e incompreensão da situação dos despossuídos.
      Como a roda-gigante, será que ela não estará começando a descer?
      O que se percebe é que os defensores do neoliberalismo já não controlam a tecnologia.
      E será que a tecnologia não é uma mata fechada, sem caminhos, que merece ser explorada para além dos velhos dominadores de sempre?
      Eu não vou viver isso. Você vai.
      Seja firme e decidida.
      Vale a pena lutar a boa luta.

  4. “O Ocidente continua aferrado ao seu próprio umbigo”, aos seus próprios interesses, a sua ideologia….acabo de ler na plataforma uol, uma entrevista realizada por Chamil Chade com o líder religioso Palestino, Munther Isaac,
    pastor da Igreja luterana de Belém na Cisjordânia, Reitor Acadêmico do Bethehem Bible College na Palestina. Nela o entrevistado declara que “o mundo não está só em silêncio, ele justifica as mortes em Gaza””, “o mundo não nos olha como iguais”. “Olha como o mundo reagiu diante dos crimes cometidos contra os Ucranianos e olha como está reagindo aos cometidos em Gaza”. “O que mais me chama atenção é a posição dos Europeus, são eles que sempre falam em direitos humanos e no direito Internacional, mas não se aplica aos palestinos”. “A hipocrisia é absolutamente transparente e reveladora”.
    Trouxe esta entrevista para este debate, porque achei que esta trágica situação vivida de alguma forma, por todos nós, neste momento, ilustra com o peso da realidade as afirmações dos debatedores “Só os pensadores ocidentais são capazes de interpretar o mundo? ” e Parece que o Ocidente continua aferrado a seu próprio umbigo”……..

    1. É isso mesmo, Sonia. Certamente, o Ocidente vê com horror a guerra contra os ucranianos, mas seus líderes talvez nem vejam os palestinos. Um caso de racismo estrutural?
      E, no entanto, há muitos jovens nas universidades americanas que estão fazendo fortes críticas a Israel, diz a Imprensa. Jovens que militariam no Partido Democrático. Ou seja, a decepção desses jovens, que lembram seus pais ou avós na questão do Vietnã, pode fazê-los abandonar Biden a sua própria sorte. Com isso, infelizmente, já há muita gente por lá que acha que Trump vai voltar…
      Bem, que não culpem os jovens pelos desacertos dos velhos. Seus corações são mais flexíveis e abertos a novas experiências. São mais generosos. São o inverso dos velhos corações calejados e insensíveis.
      O pior de tudo é que um líder sanguinário em Israel, não diferente de um líder sanguinário em Gaza, está pondo em risco a imagem dos judeus como um povo cruelmente perseguido.

  5. Perfeitamente compreensível essa postura de que os nossos inimigos/amigos não são necessariamente amigos/inimigos de outras pessoas ou povos. Mas, a resposta de Mandela está errada, pois Kaddafy e Fidel eram inimigos de seus próprios povos, ao aprisioná-los em ditaduras personalistas, sem qualquer liberdade pessoal. Compreensivelmente, Kaddafy e Fidel eram a favor de Mandela não pelos méritos próprios de Mandela, mas por serem antiamericanos e antiocidentais. Ambos levaram seus países à miséria, opressão. Mandela não precisa ser amigo de nenhum dos dois, apenas ser amigo do seu próprio povo, ponto. Da mesma forma, Lula não precisa aliar-se a Putin ou Xi Jinping na proposta alucinada e alucinante de uma “nova ordem global” (seria melhor do que a de Bretton Woods, que trouxe prosperidade e liberdade aos povos que aderiram); bastaria a Lula cuidar dos interesses nacionais do Brasil, inclusive por que Putin é um bárbaro criminoso de guerra e Xi Jinping, como novo imperador, não hesitaria em provocar uma guerra para incorporar uma província rebelde, como já fez com Hong Kong, usando violência e desrespeitando os acordos de 1997, ou faz com o Tibet e o Xinjiang. Que o Ocidente continue aferrado ao seu umbigo é compreensível, mas nós não precisamos segui-los, mas entre ele e duas ditaduras, acho que as escolhas não são difíceis. Os anticapitalistas petistas são sonhadores que dificultam o caminho do Brasil para a modernidade e as liberdades econômicas. Creio, sinceramente, tendo conhecido TODOS os socialismos realmente existentes, que o Ocidente, a OCDE, o capitalismo mais livre do que é hoje no Brasil, são as melhores escolhas para o Brasis do que essa alucinação do Lula com ditaduras execráveis.

    1. Tudo bem, caro Paulo, você tem livre arbítrio para fazer suas próprias escolhas políticas.
      Creio, apenas, que o presidente Lula não é um alucinado por “ditaduras execráveis”.
      Depois das alucinações externas do governo findo, que tentaram nos levar para os braços de governos de extrema direita, vejo o governo Lula tentando retomar o caminho de uma política externa desatrelada dos interesses econômicos e políticos de países poderosos.
      Gosto de pensar que ele está tentando “normalizar” nossas políticas. No caso das relações internacionais, isso significa ter um Itamarati profissionalizado e aberto a novos ventos. Nada diferente do que ele era no passado, quando trabalhamos lado-a-lado em questões dos organismos internacionais e do Mercosul, nos anos 1990. Tenho excelentes lembranças da forma de trabalho dos embaixadores e dos jovens secretários na cobertura das pautas internacionais. Aprendi muito com isso e tentei copiar o que fosse possível no meu trabalho.

    2. Um adendo, caro amigo: você mencionou “a proposta alucinada e alucinante de uma ‘nova ordem global’ (seria melhor do que a de Bretton Woods, que trouxe prosperidade e liberdade aos povos que aderiram)”. Assim colocada a questão, fica a sensação de que Lula e países antidemocráticos e antiocidentais querem destruir a ordem global aprovada em Bretton Woods, em 1944.
      Do meu ponto de vista, quem destruiu essa ordem liberal foi o neoliberalismo, Senão vejamos: Os objetivos de Bretton Woods foram a retomada do comércio internacional, abalado pela Primeira Guerra Mundial e pela crise de 1929, e o fortalecimento dos Estados Nacionais. Os pilares básicos foram a determinação de taxas de câmbio administradas, taxas de juros fixas e controle dos fluxos financeiros internacionais de curto prazo. Os instrumentos foram a criação do Fundo Monetário Internacional (FMI), voltado à correção dos desequilíbrios dos balanços de pagamentos dos países-membros, e do Banco Mundial (BIRD), que se destinava à reconstrução da Europa e do Japão.
      Para abrir as portas do comércio a todo o mundo, e com isso enterrar os resquícios dos privilégios coloniais, era preciso um Estado Nacional forte. Para isso, as taxas de câmbio foram administradas pelo FMI e as taxas de juros nos empréstimos internacionais eram fixas. O combate a toda forma de especulação no comércio se dava pelo controle dos fluxos financeiros internacionais de curto prazo. Keynes disse certa feita que uma gota de especulação poderia ser aceita se ocorresse num oceano de estabilidade. Não mais do que isso.
      Quem tentou destruir o Estado Nacional e substitui-lo por organismos internacionais como a OMC, o FMI e o Banco Mundial, num ambiente de globalização? Não foi o governo Nixon quem acabou com o câmbio fixo do dólar, entre 1971/73, dando início a um processo em que todas as taxas de câmbio se tornaram flutuantes? As taxas de juros fixas também foram para o espaço como resultado das duas crises nos preços do petróleo, que ocorreram em 1973 e 1979, enchendo os cofres dos países exportadores do produto. Mais para o final dos anos 1990, o FMI e o Banco Mundial passaram a diminuir seus empréstimos sob a desculpa que os mercados financeiros internacionais estavam muito líquidos e abriram suas comportas para os países em desenvolvimento e os mercados emergentes. Desde então, as negociações por aporte de novos recursos a estas instituições não apresentam aumentos apreciáveis e os empréstimos aos países em crise penam sob a condicionalidades excessivas.
      Eu lhe pergunto, Paulo, ainda resta alguma coisa da ordem de Bretton Woods? É claro que o FMI e o Banco Mundial ainda existem, mas não são nem uma sombra do que foram no passado. O acordo liberal de Estados fortes foi substituído por flexibilizações neoliberais de câmbio, juros e fluxos internacionais. E as necessidades de recursos dos emergentes continuaram a sofrer restrições, sob a forma de condicionalidades pesadas.
      Pode-se, em sã consciência, reprovar que esses países em desenvolvimento e os mercados emergentes comecem a se mexer em busca de novos portos seguros? E eles estão surgindo na Ásia, na Europa e até no BRICS, uma instituição não regional. Serão uma solução? Não sei. Só sei que, como muito se diz por aí, a política não gosta de vazios. Quem se retira, abre as portas para um substituto.

  6. Sintese de grande qualidade sobre a evolução do pensamento ocidental a propósito das transformações sucessivas das sociedades ocidentais, sob o impacto de guerras e mudanças econômicas. Questiona-se se esse pensamento multiplo é capaz de abranger toda a complexidade do real e se as interpretações oferecidas fazem o mesmo. Os conceitos empregados — capitalismo, liberslismo, neoliberalismo — não são mais do qu econceitos, ou seja, não podem e não conseguem aprisionar toda a realidade complexa da vida e situações. Por exemplo: concentração de renda pode ser um traço da atualidade das sociedades OCIDENTAIS, mas a riqueza tem sido produzida e circulado em sociedades não ocidentais. Só pensadores o ocidentais são capazes de interpretar o mundo?

    1. Caro amigo Paulo Roberto, concordo com sua crítica. Apesar de ter tentado destacar alguns conceitos, percebo a distância entre pensar e explicar. Provocadora e interessante sua pergunta. Estaremos lendo somente pensadores ocidentais? O que estará se passando na cabeça dos pensadores orientais, que parecem estar determinados a ocupar o centro do mundo?
      Outro dia, recebi um vídeo de uma viagem de Nelson Mandela aos Estados Unidos. Ele fez uma palestra no Congresso americano. Um deputado negro questionou a aproximação do líder sul-africano com Gadaphi (está certa a grafia?) da Líbia, com Cuba de Fidel e com a Rússia de Putin. Sua resposta foi curta: um erro comum nos analistas políticos é o de achar que os seus inimigos são os nossos inimigos.
      Parece que o Ocidente continua aferrado a seu próprio umbigo.

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