Reflexões Inquietas

Apresentação

A aposentadoria é um passaporte permanente para a invisibilidade. Ela não chega a ser injusta, porque é necessário abrir espaço laboral aos mais jovens e porque ninguém é insubstituível. Não é injusta, mas é lamentável. O corpo começa a falhar, mas a mente ainda está ativa, ao menos em nossa imaginação.
Fui funcionário do Banco Central até 1997, para onde entrei num concurso de economista, nos vinte anos finais de minha carreira no serviço público. Na maior parte desse tempo, trabalhei no Departamento Econômico em São Paulo e, depois, em Brasília. Por formação acadêmica e hábito, imaginei que ali ficaria até o momento de sair. Por acaso, talvez não tanto, em 1992 fui convidado para chefiar um departamento que tratava das relações institucionais e econômicas com organismos multilaterais, além de coordenar o grupo brasileiro nas discussões da esfera financeira do Mercosul.
O que a princípio parecia um desterro, tornou-se o período mais rico de minha carreira. Com o cargo, ganhei uma cadeira que me habilitou a participar dos encontros internacionais do Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial, Banco Interamericano de Desenvolvimento, Mercosul e toda uma sopa de siglas que caracterizam o espaço das relações externas do mundo. Naquela cadeira ouvi o mundo falar. Às vezes, falei. Nos momentos cruciais, a palavra estava com os ministros da Fazenda ou do Planejamento.
Depois da aposentadoria, dois eventos marcaram os novos passos.
O primeiro foi que algumas indicações políticas me levaram ao cargo de diretor financeiro da Emurb (a empresa de urbanização do município de São Paulo) e da Funcef (o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal). Experiências válidas como aprendizado político para quem, até então, ficara ao abrigo do Estado brasileiro.
O segundo está relacionado a um certo cansaço com a prática cotidiana da economia. Algo me dizia que era preciso ampliar os horizontes. Para onde? Um grande amigo mostrou o caminho: “Fuja da suposta objetividade do mundo real e vá estudar história da arte nos cursos do Masp.” E eu fui! Não reneguei, é claro, o plano da realidade concreta, mas procurei incorporar um novo olhar àquilo que me cercava. Assim, nas noites de terça-feira eu saía do prédio Martinelli às 18:30 horas e pegava o metrô para a Av. Paulista. Era uma delícia fugir das possíveis reuniões de diretoria para me enfurnar nas salas de aula com luzes esmaecidas, onde professores competentes nos apresentavam as transparências com as obras dos mais renomados artistas plásticos. Esse gosto, que “até então se resguardara, é o melhor que trago em mim agora”, como diz a letra do Super-Homem de Gil. E sempre que possível tentei correlacionar minhas crenças em aulas de economia com eventos artísticos do passado. Pretendo fazer o mesmo neste espaço que hoje se abre, porque entendo a arte como uma forma de expressão, uma linguagem, assim com o são a ciência e a religião. A arte fala da beleza, mas não só dela. Ciência, religião e arte falam da vida.
Em princípio, as reflexões inquietas estão divididas em três eixos. O primeiro é uma tentativa de lançar um olhar para o mundo atual. O segundo, um olhar para o Brasil. O terceiro, um olhar para a economia política.
Não sei bem até onde essa iniciativa pode me levar. Na luta para fugir do esquecimento, procuro me integrar nas novas formas de pertencimento à comunidade, que são as tais mídias sociais. Confesso um certo temor, quando constato o quanto de manipulação e mentira rola nelas. Acredito que seja possível manter o espaço à margem de discussões mal intencionadas. Críticas sempre acontecem, é claro, mas podem ser contidas dentro de parâmetros civilizados. Ingenuidade?
A pretensão é a de dar liberdade de opinião a quem trouxer críticas e sugestões construtivas aos textos apresentados. Quem quiser fazê-lo, pode publicar seus pontos de vista. O que move este espaço é tentar recolocar o tema do que significa ser brasileiro. Isso já dominou o centro das discussões da intelectualidade brasileira na primeira metade do século XX.  Quando vejo tanta ansiedade e desencontro no entorno, acredito que é premente retomar a pergunta:  O que somos? Para onde queremos caminhar?

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