O artigo a seguir tem um caráter saudosista e esperançoso. Ele foca a década de 1950, talvez os “anos dourados” da história brasileira, também publicado na Revista Transdisciplinar, em 2022. Seu objetivo foi dar um voo de pássaro naqueles anos. Para tanto, coube recolher elementos econômicos e culturais na busca do homem brasileiro da época. O que fez o gigante levantar-se de seu eterno repouso e partir no encalço de novas ideias, que não foram pequenas? Enfim, o que foi a Modernidade brasileira da época?
Houve um objetivo oculto, porém. No fundo, ele nasceu da vontade de contrastar uma época de brilho em várias esferas do conhecimento com a vulgaridade do governo que findou recentemente. Ou seja, destacar os avanços da época em oposição aos retrocessos de um governo ignóbil, sem cair numa “fulanização” estéril.
Aquela década foi forjada por dois presidentes: Getúlio Vargas (1950-1954) e Juscelino Kubitscheck (1956-1961). Na esteira do otimismo que dominava o ambiente global, ao final do período bélico, eles deram forte impulso à economia: avanços na indústria nacional e na mudança do eixo político para o centro geográfico do País; crescimento econômico forte e direitos trabalhistas de sua gente. Tudo isso, apesar do traumático episódio do suicídio de Getúlio Vargas em 1954.
Não foi só isso. A cultura deu saltos espetaculares. A arquitetura e o urbanismo de Oscar Niemeyer e Lúcio Costa; o neoconcretismo de Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica; e a música de Tom Jobim e João Gilberto tiveram impacto relevante no panorama cultural do mundo. A literatura e o teatro não tiveram a mesma projeção internacional, mas não fizeram feio. A década também foi rica nos esportes.
Por isso, parece que o “espírito do tempo” era positivo e que era bom ser brasileiro.
Para não ficar num quadro cor-de-rosa apenas, a literatura da época também mostrou as dificuldades na passagem de um passado rural para a modernidade. A violência continua posta, como bem mostrou um conto de Guimarães Rosa. Passados mais de setenta anos desde que ele foi escrito, absurdos continuam a acontecer porque repetem, seguidamente, as tragédias das mortes de crianças, por violência ou displicência, no que deveria ser o seio da família. E não só de crianças. De diferentes. Dos “outros”.
A gente não sabe planejar o futuro do país? Nos anos 1950, ele foi planejado. A gente não sabe se organizar politicamente? Bem, aqueles foram anos democráticos. Nada do que aqui foi falado tem a ver com utopias. Tudo aquilo foi feito por gente da terra. É História. Nenhum herói. Gente que seguiu o “espírito do tempo” e olhou para frente.
4 respostas
Luizão gosto da sua apreciação pelo lado da história. A grande questão que ficou apos os anos 50 foi o retrocesso na educação, tanto no período da ditadura mas talvez até mais forte na redemocratizacao. O que provocou isso: temo que tenha sido a questão ideológica que impediu que tivéssemos um Plano Nacional de Educação para ser seguido pelos diversos governos que se elegessem. Senti nos anos 1980 que, apesar da derrocada econômica, tínhamos uma esperança muito grande na redemocratização, retomada do nosso destino de glória, brasilidade, etc, o que infelizmente foi se esvaindo ano a ano. Ate que ponto a constituição de 1988, em seu intuito desequilibrado de resgate da cidadania, contribuiu para isso? Acho uma boa discussão, sobretudo naquilo que definiu nossa sistema político desequilibrado em favor da representatividade de Estados menores que são mais suscetíveis ao patriarcalismo e à corrupção.
Paulillo, eu dei, de fato, atenção ao desenvolvimento da economia e da cultura.
A educação formal ou oficial sempre foi um gargalo sério em nosso país.
O importante foi o “espírito do tempo”, que nos fazia olhar pra frente.
Talvez, se não tivesse ocorrido o golpe militar, a questão educacional poderia ter tido avanços apreciáveis.
Enfim, a modernidade buscada na época, assim entendido um esforço de superar o patriarcalismo, foi impedido de avançar pelo golpe militar.
Se isso for verdade, precisaremos de nova fase de consolidação democrática para tentar um novo salto pra frente.
Abração. Obrigado pelos comentários.
Não vejo otimismo ingênuo no artigo.
Certamente, o ambiente atual permite antever coisas boas.
Valeu, Carlão, tomara que seu atual otimismo, particularmente na área da energia, prevaleça;.
Abraços,
Luiz Afonso