O primeiro artigo aborda tópicos das relações externas do Brasil, tal como sinalizadas pelo governo do Presidente Lula. Ele apontou para a construção de uma nova geopolítica mundial que foca nos interesses dos países em desenvolvimento.
Seu ponto de partida é uma análise da história recente do padrão de financiamento dos países de renda média, a partir das duas décadas finais do século XX. Fartura de capitais privados e também de momentos de grande volatilidades nesses fluxos deram o tom da época. O aumento dos fluxos privados de capital deu a desculpa para que as instituições multilaterais de Bretton Woods desviassem seus recursos para os países mais pobres, sem levar em conta que a volatilidade desses fluxos iria criar crises graves ao redor do mundo. Esse novo tipo de crise começou a aparecer na Ásia e na América Latina, ainda nos anos 1990. Na periferia da Europa um pouco mais tarde, já sob o impacto da crise econômica global de 2007/2008.
Como consequência desses eventos, o texto descreve as reações ao novo quadro de desregulamentação dos fluxos internacionais de capitais. Por isso, Ásia e Europa entenderam ter chegado a hora de criar seus próprios instrumentos de proteção contra crises de balanço de pagamentos e de estímulo a projetos sustentáveis de desenvolvimento econômico. É nesse contexto que se insere a Iniciativa Chiang-Mai e do BRICS de priorizar seus países mais frágeis financeiramente, por meio de medidas financeiras em um Acordo Contingencial de Reservas (CRA, na sigla em inglês), como também o de apoiar projetos de desenvolvimento econômico, por meio de um Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês). Na Europa, a saída foi a criação de dois fundos para atender prioritariamente aos países sob ataque: o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), em 2010, e o Mecanismo Europeu de Estabilização (ESM), em 2012. Voltados a salvaguardar a estabilidade financeiro da Zona do Euro, suas capacidades de empréstimos somavam cerca de €1 trilhão.
Passando ao momento atual, foram colocadas algumas questões de importância para os países da América do Sul. Aqui se tratou das relações do Brasil com seus vizinhos, no que diz respeito a (1) ampliação do Sistema de Pagamentos em Moeda Local (SML), um instrumento até agora pouco utilizado. Ainda de interesse dos países da região foi (2) o futuro que será dado à composição do BRICS, por conta de sua atuação nas esferas monetária e de financiamento a projetos de desenvolvimento. Finalmente, (3) outra proposta foi a da reabertura de discussões abrangentes com os presidentes regionais e, em especial, com os oito países que compõem a região amazônica. Este é um tema relevante por envolver os países amazônicos nas questões ambientais.
2 respostas
A liberação de recursos por instituições internacionais vincula CONDICIONANTES.
A partir da adesão de novos membros, seria interessante saber como são definidos pelo board do NDB.
Há limites de empréstimos para cada país.
Acho que tem prevalecido critérios políticos.
A grande voz no NDB é a China, é claro.
Creio que as condicionalidades não devem ter o caráter recessivo que se observa no Banco Mundial.
A China é muito mais sensível ao discurso progressista.
Num certo sentido, é como se ela ainda fosse um país em desenvolvimento.
Por isso, parece que, em caso de aumento de quotas nos organismos multilaterais, como está ocorrendo agora (vou publicar uma nota a respeito) talvez mais interessante aportar recursos no NDB que no Banco Mundial.