
O texto fala de uma revisão geral das quotas do FMI, a serem pagas pelos países-membros. um tema árido como costumam ser os debates de questões monetárias. É preciso falar dela por dois motivos: um, porque quotas e votos determinam as disputas pelo poder dentro do organismo e dois, porque é esperado o encerramento de mais uma rodada de aporte de recursos já agora em dezembro de 2023, no âmbito da 16ª. Revisão. Esses eventos ocorrem, em geral, em intervalos de cinco anos, de modo que o momento é compatível com a idade do Fundo, que, ano que vem, completa oitenta anos.
Quotas e poder de voto são duas variáveis que deveriam andar lado-a-lado. Andaram no passado, quando os países avançados entendiam ser necessário apoiar países vulneráveis a crises financeiras. A situação atual é diferente porque os países emergentes têm mudado sua importância relativa na ordem mundial. Alguns têm crescido rápido, com aumento de suas contribuições financeiras e querem que sua nova posição de relevância se veja refletida no poder de voto. É sempre aí que eles esbarram nas resistência dos velhos detentores dos postos-chave, que traçam as políticas do organismo.
O texto anterior nesta seção, As Relações Externas do Brasil em Lula 3, gastou um bom tempo descrevendo as mudanças que vêm ocorrendo no comportamento das nações avançadas, que claramente se mostram resistentes em aportar novos recursos para o enfrentamento de crises das nações em desenvolvimento. Por isso, não cabe aqui retomar os argumentos ali expressos. Mas, obviamente, cabe perguntar porque esse recuo no financiamento não tem sido acompanhado por um redesenho do papel das novas potências do cenário mundial. O ritmo das negociações tem sido muito lento, elas pouco avançam e a insatisfação dos emergentes é flagrante. É disso que se fala aqui.
5 respostas
Porquê da afirmação que os empréstimos serão reduzidos pela metade com o aumento de 50% nas quotas?
Não me lembro de ter usado estas palavras.
De todo modo, se eu o fiz não fui claro.
O que eu queria dizer é que desde a década de 1990, os principais quotistas do FMI deixaram de fazer aportes ao organismo.
Na 14a. Revisão de quotas, que ocorreu em paralelo com a crise econômica global, começada em 2007-2008, não houve aporte de recursos permanentes.
Economias emergentes fizeram aporte substancial, o que implicaria mudança nas quotas e, consequentemente, no poder de voto.
O Congresso americano se opôs a isso por muitos anos.
Como a necessidade de recursos era premente, as economias emergentes aceitaram fazer um empréstimo provisório ao FMI. É claro, portanto, que o poder de voto não se alterou.
Na 15a. Revisão de quotas, também não houve aportes.
Na. 16a.Revisão, a atual, houve aumento de quotas, mas apenas derivado da alteração da natureza dos recursos: parte dos recursos provisórios (que não implicavam mudança no poder de voto) viraram recursos permanentes (que alteraram o poder de voto).
Resultado: economias emergentes se tornaram relativamente mais fortes, mas não houve entrada de recursos novos. Quando o organismo diz que aumentou os recursos permanentes em 50%, fica subentendido que os recursos provisórios diminuíram compensatoriamente.
Muito bom o artigo, como não tenho formação na área, o que mais me chamou atenção foi, apontar para relação entre as condicionantes exigidas pelo FMI, para a liberação dos empréstimos, como uma provável causa da atual baixa procura
das nações pobres e emergentes aos mesmos e da criação e expansão de outras fontes de
financiamento, tal como o banco dos BRICS.
Bem lembrado. Há críticos que dizem não faltar recursos no FMI para emprestar aos países em crise. O que falta é demanda por conta das exigências impostas. Seria, talvez, o caso de se perguntar se as instituições de Bretton Woods ainda são funcionais ou se o melhor é buscar alternativas em outros foros? Esse movimento de dispersão já vem se observando há anos, pelo menos desde a crise econômica global de 2007-2008
Um acréscimo à resposta que lhe mandei:
No dia 7 de novembro de 2023, a Diretoria Executiva do FMI propôs aos governadores dos países-membros um aumento de 50% nas quotas.
Se aprovado, esse aumento reforçará os recursos permanentes do organismo, mas, ao mesmo tempo, os empréstimos que o FMI fez com os países-membros (NAB e BBA) serão reduzidos praticamente no mesmo montante.
Ou seja, são aumentados os recursos permanentes e reduzidos os recursos não-permanentes.
Resultado: zero aumento efetivo de disponibilidades financeiras para empréstimos.
A discussão da fórmula também foi adiada para junho de 2025, quando se estará discutindo a 17a. Revisão de Quotas.
O assunto é visto como urgente principalmente pelos mercados emergentes e países em desenvolvimento (EMDEs na sigla em inglês), já que eles pretendem realinhar as quotas para melhor refletir as posições relativas dos países na economia mundial.