
Este documento é um trabalho coletivo de funcionários aposentados do Banco Central do Brasil (BCB). Seu objetivo é fazer uma crítica à política econômica vigente no Brasil desde o final dos anos 1990, que ficou conhecida como tripé macroeconômico.
Após um longo período de inflação muito alta, esse tripé visou o controle da inflação (meta inflacionária anual), a flutuação da taxa de câmbio (associada a uma ampla abertura aos fluxos financeiros internacionais) e o equilíbrio das contas públicas. Essa orientação de política econômica ainda vige e segue as recomendações da academia norte-americana, no que ficou conhecido como Consenso de Washington. Às vezes, ela tem sido denominada de macroeconomia da globalização.
Na perspectiva dos autores, esse tripé se tornou, em grande medida, um instrumento anti-desenvolvimentista, por ter dado ênfase exclusiva aos aspectos inflacionários, que foram razoavelmente contidos, em detrimento do desenvolvimento econômico, mostrando-se incapaz de viabilizar uma saída consistente do estado de semiestagnação em que se encontra o País nos últimos cerca de quarenta anos. O período anterior de forte crescimento, no século XX, ficou para trás e parece ter sido esquecido pelos seus dirigentes e por suas elites.
É mais do que hora de mudar de caminho. Já se passaram vinte e cinco anos de uma questionável preferência absoluta pelo combate à inflação, ainda que ela seja uma variável essencial. É preciso expandir as mentes e implantar medidas de política econômica que favoreçam o retorno do crescimento e a melhoria das condições de vida do povo.
Três são as seções constitutivas deste texto. Elas se reportam a variáveis fundamentais: taxa de juros, taxa de câmbio e seus impactos na dívida mobiliária federal interna. A pretensão é elencar algumas medidas, nove ao todo, que aprimorem a condução da política econômica e tornem menos custosa a gestão da dívida pública.
4 respostas
Parabéns aos autores desse trabalho, que aponta, com clareza, a inadequação do processo de condução da política monetária brasileira, nas últimas décadas, à luz das as efetivas demandas por crescimento econômico e desenvolvimento sustentado do Brasil.
Nesse sentido, ao empregar o termo “processo” (de condução) e timbrá-lo de inadequado, levo em conta, dentre outros:
a) os aspectos de ordem institucional, em que se insere, por exemplo, a estrutura inaceitável, de fato, do Copom, onde nem mesmo o Tesouro Nacional tem assento. Aliás, mesmo que o TN seja de alguma forma ouvido pelo Copom previamente às decisões, fato é que não tem assento no Colegiado, assim como não o tem o lado real da economia que, afinal, também utiliza e, de certo modo, “produz” moeda e juros;
b) o referencial técnico/epistemológico empregado (pelo BCB/Copom), que vai da adoção de uma visão/linha ortodoxa altamente questionável e defasada (André Lara Resende fala com propriedade a respeito), até o apego “quase reverencial” a expectativas de mercado moldadas por uma forma de pensamento marcadamente financeira, oriunda de um só segmento da sociedade econômica (o financeiro, que detém, obviamente, seus próprios interesses, não necessariamente condizentes com os da sociedade e do País como um todo);
c) a aparente falta de senso de realidade e de perspectiva histórica, seja no tocante ao nível inadequado da atual “meta de inflação” (ou de seu “centro”), seja quanto à questão do nível de emprego vis-a-vis a demanda agregada e possíveis impactos inflacionários, seja quanto à adoção de um “núcleo da inflação” impactado por fatores que não respondem à Selic, seja pela (aparente, repita-se) não consideração da experiência trazida pelo combate à crise (norte-americana, mas também internacional) de 2007/2008, em que o chamado Quantitative Easing (QE) mostrou novas perspectivas no tocante, por exemplo, às relações “moeda-inflação”. E assim por diante;
d) a aparente “baixa integração” do BCB com o governo em termos de política econômica, sobretudo numa perspectiva de “economia política” (eventualmente capaz de, por exemplo, gerar vetores eficazes de política econômica do lado da “oferta”, úteis/compatíveis, em última análise, com a própria “gestão” das metas inflacionárias no médio e longo prazos);
e) etc.
Enfim, ressalvada a menção ao QE, praticamente todos esses aspectos, associados a um relevante conjunto de dados acerca da dívida pública, seja de corte estrutural (tal como a composição por títulos), seja de natureza funcional/operacional (envolvendo o emprego dos títulos públicos na relação financeira entre TN, BCB e mercado financeiro, com destaque para a ótima abordagem sobre as LFTs e sobre a inadequação das operações compromissadas), tudo isso, enfim, faz desse artigo um trabalho de leitura obrigatória por aqueles que queiram entender, de fato, alguns dos principais fatores que têm levado o Brasil enfrentar, há várias décadas, dificuldades para retomar o caminho do crescimento econômico robusto que o caracterizou, principalmente, entre os anos 1940 e 1970, de modo a (quiçá) poder ingressar, finalmente, numa rota de desenvolvimento sustentado (de longo prazo).
É bem verdade que será necessário, nessa linha, superar o absurdo atraso (cultural, lato senso, incluindo as noções de sociedade, Estado, País, regulação etc.) das elites econômicas e políticas brasileiras, geralmente pautadas por “opiniões econômicas” (dominantes na grande mídia brasileira) oriundas de economistas e outros analistas frequentemente ligados, não coincidentemente, ao mercado financeiro. Atraso das elites que, aliás, não constitui novidade, posto que há muito referido por pensadores da estatura de Celso Furtado e Darcy Ribeiro, dentre outros.
Tomara, enfim, possa esse trabalho ajudar um pouco na árdua tarefa de elevar o nível do pensamento “médio” dessas elites e das análises oferecidas no âmbito da mídia tradicional do País.
Parabéns, mais uma vez, aos autores.
Os autores dizem
Oportunos e pertinentes comentários, amigo José Luiz.
Excelente resumo do texto propiciado por Zé Luiz, que parabeniza os autores. O elogio se estende ao próprio Zé Luiz pelas suas pertinentes colaborações, pontuais ou abrangentes, mas sempre úteis e relevantes. Tem momentos em que a modéstia vem em demasia. Zé, relaxe e aproveite também. Quando vierem as críticas, não se preocupe que nós a encaminharemos para você também.
Concordamos com todos os seus comentários, que poderiam estar no próprio texto divulgado. Refletindo uma velha tradição da alta cúpula do Igreja Católica de Roma, nós não o consideramos como um cardeal, mas sim como um “autor in pectore” de nosso trabalho.
Parabéns ao grupo. Aposentados, mas não alienados.
Análise macro monetária/financeira perfeita.
Pena que como o próprio texto diz: “Infelizmente, opiniões contrárias só transitam na mídia alternativa das redes sociais, sem repercussões.”
Obrigado Nagib, um elogio sempre aquece nossos corações.
Fora isso, será que nossas ideias vão ser lidas e pensadas?